“Eu liguei, mas não me atenderam. Liguei outra vez para outra pessoa, mas não pode me ouvir. Liguei para uma terceira pessoa e solicitei ajuda, foi de última hora. Não pode me antender. Liguei mais uma vez para outra pessoa que me disse que se fosse mais cedo, poderia ter me atendido. Liguei umas tantas outras e outras vezes, e a resposta foi sempre a mesma: estou cansada, ocupada, amanhã tenho isto ou aquilo, mas vamos marcar outro dia. Te ligo depois… E de ligação em ligação me dei conta que estava só. De ligação em ligação percebi que todos estavam no “seu próprio mundo” assim como eu estava no meu e certamente tantos e tantos que já me ligaram e por algum motivo também me desculpei. Na escuridão da noite, na solidão da alma, no clarão do dia… quando me dei por conta – havia apenas um não sei o que… estava vivo!”
Foi assim que aconteceu e acontece ainda agora! Estamos tão mergulhados em nosso próprio “eu” em nosso próprio “mundo” que mal nos damo conta do mundo “do outro”. Estamos tão arraigadamente desconectados que mal percebemos nas entrelinhas a necessidade vital do outro que está entre a vida e a morte. Seja essas realidades real ou simbólicas. O que “nos ocupa” tanto que estamos sempre em estado de desconexão de uns com os outros exceto naquilo que podemos tirar proveito próprio? O outro se tornou “utilitário” na relação que mal conseguimos parar para o escutar, deixar o que está fazendo para o atender porque sempre “o meu mundo” vem primeiro exceto quando prescindo do outro para preenché-lo. Ligar é uma necessidade, é sempre um ato de comunicação, de se sentir aqui e agora presente e presente na vida do outro seja lá o que ele esteja fazendo ou de fazer o outro está na nossa vida. Ligar é sempre um ato quando não muito, de um pedido de socorro velado nas entrelinhas das palavras. Eu liguei mas o outro lado não “se ligou” e uma voz ressoou atoa…”alô?!”